Surpreenda-se com belas floradas de espécies comestíveis que só não agraciam o jardim mais vezes por falta de oportunidade
Texto Ana Luísa Vieira Fotos Valério Romahn
A história mostra que, para os homens, a necessidade vem sempre primeiro. No que se refere às plantas, a relação não poderia ser diferente: começaram cultivando-as para fins alimentares e medicinais para só depois valorizá-las como ornamento. É algo tão forte que, ainda hoje, as pessoas consomem certas espécies sem ao menos conceder a suas flores a chance de se apresentarem. Acabam por perder floradas exuberantes e curiosas que, se tivessem oportunidade de despontar, não passariam despercebidas no jardim.
Exemplo melhor que a alcachofra (Cynara scolynius) é difícil de encontrar. Muitos nem sabem que aquelas partes carnosas – e saborosos – que as pessoas comem são as brácteas de uma inflorescência. Quando ele atinge a maturidade, desponta um belo e chamativo conjunto de flores com finíssimas pétalas rosa-arroxeadas. O problema é que, a essa altura, as brácteas já endureceram e ficaram impróprias para consumo. Por isso a espécie é sempre colhida antes da floração.
De mal semelhante sofrem os brócolis (Brassica oleracea var: itálica). O caso dele, entretanto, é um pouco mais cruel: ao abocanhar suas inflorescências, as pessoas dão cabo de ínúmeros botões florais que não terão a chance de desabrochar e exibir pequenas flores amarelas. Para que a espécie possa ser consumida em saladas ou em outros pratos salgados, suas inflorescências têm que ser cortadas da planta ainda imaturas.
Flores entre temperos
Na ala dos temperos, pode-se dizer que algumas flores até têm oportunidade de se mostrar – mas são subjugadas pelo gostinho das folhas e frutos que acompanham. A flor em forma de estrela da pimenta jalapeño (Capsicum annuum ‘Jalapeno’), por exemplo, é pouquíssima conhecida: desponta branca e pequena entre a folhagem e quando fecundada, produz frutos alongados – estes sim, bastante populares entre os fãs das ardidas.
No caso da sálvia (Salvia officinalis), a avidez de alguns por usar a folhagem da planta para dar um sabor levemente picante a carnes, sopas e molhos faz com que suas inflorescências compridas, formadas por pequenas flores de tom arroxeado ou azulado, passem em branco. A boa notícia é que elas levam certo tempo para ir embora do jardim: quem não vê na primavera tem todo o verão para aproveitar.
A florada da cebolinha-francesa (Allium schoenoprasum) é mais curta – vai de setembro a novembro – porém marcante, já que as inflorescências de formato globoso são compostas por pequenas flores rosa-arroxeadas. Vale a pena apreciá-las antes de colher as folhas para condimentar saladas e pratos salgados.
Mesmo que negligenciadas pelos humanos, as flores da sálvia e da cebolinha não passam despercebidas pelas abelhas e outros insetos que correm para poliniza-las. Propagar a espécie é uma forma de reverenciar sua beleza.
Além da salada
Grandes, vistosas, com formato de funil e tom amarelado, as flores do quiabo (Abelmoschus escalentus) vêm para desfazer qualquer má impressão que a baba de seus frutos tenha causado. O miolo marrom cercado por pétalas amareladas garante a originalidade do visual
A florada se mantém por boa parte do ano e carrega a responsabilidade de perpetuar a espécie. Cada flor é hermafrodita – normalmente elas se autopolinizam – e quando fecundada, gera o conhecido fruto do tipo cápsula, que mede até 12 cm de comprimento.
As estrelas amarelo-alaranjadas que nascem da abobrinha (Cucurbita pepovar. melopepo ‘Caserta’), por sua vez, conseguiram uma façanha pouco comum entre as flores de espécies cujos frutos são tão comumente utilizados em saladas: ganharam receitas exclusivas.
Os culinaristas preparam risotos, massas e vários outros pratos usando a flor da espécie, que tem sabor suave e é rica em vitamina C. Há até quem goste de consumi-la recheada com queijo.
Florada para poucos
As semelhanças entre as flores da mini abóbora (Cucurbita hybrid) e a mini berinjela (Solanum melongena ‘Ajinasu’), vão além das cinco pétalas dispostas em formato de estrela. Elas despontam em plantas desenvolvidas por melhorias genéticas e que crescem menos que as espécies originais – Solanum melongena e Cucurbita pepo, respectivamente. O curioso é que elas seguem as cores dos frutos que acompanham – amarelo-alaranjado, no caso da mini abóbora e roxo, em se tratando da mini berinjela. No mais, são hermafroditas e autossuficientes no quesito reprodução, pois se autopolinizam.
Embora as plantas e frutos destes híbridos sejam menores que os das espécies originais, as flores não tiveram seu tamanho afetado: medem 10 cm de diâmetro na mini abóbora e singelos 2,5 cm na mini berinjela.
Apreciá-las, no entanto, é para poucos: as sementes necessárias para o cultivo destas espécies são protegidas por leis de patentes e para ter acesso a elas, é necessário atender a requisitos específicos e, é claro, pagar royalties.
Coloridas e caprichosas
No tomateiro (Solanum lycopersicum), a mistura das cores vermelha dos frutos e amarela das flores destaca-se no jardim. A cor vibrante da florada é a preferida das abelhas, que não perdem tempo em poliniza-las. É pena que tanto seus frutos como suas flores sejam suscetíveis a pragas e doenças.
As inflorescências do jambu (Acmella oleracea) conseguem reunir em uma só estrutura as cores que o tomateiro separou em flores e frutos. No início nascem vermelhas e aos poucos, são completamente cobertas por incontáveis florzinhas amarelas. Mais que bonitas, são comestíveis – assim como suas folhas, popularmente usadas em receitas da região Norte do Brasil. Dizem até que têm propriedades anagélsicas.
O pé de vagem-macarrão (Phaseolus vulgaris) lembra muito o feijão. Nas extremidades de seus ramos verdes, despontam pequenas flores brancas e muito graciosas. A planta é tão caprichosa quanto o tomate e exige cuidados no cultivo para não ser infestada por bichinhos.
Revista Natureza , Editora Europa Edição 311, Dezembro 2013
Parabéns pelo seu trabalho, adorei! Eu trabalho com Jardinagem em BH e sou apaixonado com minha profissão.
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