Palestrantes:
Maria Luiza Amatuzzi e Suely Kruger
Proferida em 17-Mar-2004
Cada cidade é uma paisagem, onde se aliam elementos naturais e culturais. Podem não ser proporcionais, mas não são indissociáveis.
A árvore é o vegetal mais presente na vida e no ciclo histórico do homem. No início era usada como combustível para alimentar as fogueiras dentro das cavernas, como arma de caça, implemento agrícola, como componente das casas e hoje faz parte do cotidiano do homem, em vários momentos e nas mais diversas formas. Porém a inserção da árvore no contexto urbano é muito recente na história dos povos.
Até 1700 as árvores eram vistas apenas como integrantes das florestas que circundavam as cidades, mas os pesquisadores da época já iniciavam estudos sobre a dinâmica de desenvolvimento das árvores nos jardins botânicos em toda Europa.
É a partir de 1800, através da iniciativa pioneira das cidades de Londres e Paris com seus squares e boulevards, respectivamente, que as árvores foram definitivamente introduzidas na malha urbana.
No Brasil, a cidade do Recife foi o primeiro núcleo urbano a dispor de arborização de rua em pleno século XVII, sendo retomada esta atividade, no século XIX, com forte influência europeia.
Os séculos XVIII e XIX assinalam no Rio de Janeiro, locais e obras, marcos iniciais e fundamentais do paisagismo brasileiro, como a Rua do Ouvidor, a criação do Passeio Público, Jardim Botânico, Quinta da Boa Vista e Campo de Santana.
O Século XX irrompeu com a expansão urbana: investimentos no meio imobiliário, abertura de ruas e avenidas, expansão do transporte coletivo, surto de industrialização, êxodo rural e outros fatos que alteraram a fisionomia das cidades.
É um período de profundas mudanças em nome da modernidade, de grandes projetos e projetistas, principalmente, nos grandes centros, mas também marcado por perdas de um patrimônio arquitetônico e vegetal, da identidade de certo local e da ruptura da relação homem-natureza.
Importância e Benefícios da arborização urbana
A ação dos elementos climáticos, isolados ou em interação, é responsável pela sensação de conforto ou desconforto do homem e estas ações são alteradas nos centros urbanos.
Uma árvore sozinha não afeta a sua vizinhança em termos climáticos, mas grupos ou mesmo árvores espalhadas podem ser muito eficientes na melhoria microclimática, contribuindo para a condição humana de conforto.
Efeito da Vegetação sobre a radiação Solar
As árvores e outros vegetais interceptam, refletem, absorvem e transmitem radiação solar, melhorando a temperatura do ar no ambiente urbano. No entanto, a eficiência do processo depende das características da espécie utilizada tais como forma da folha, densidade foliar e tipo de ramificação.
Efeitos da Arborização sobre a temperatura e Umidade do Ar
A influência das árvores sobre a temperatura do ar também pode se verificar pela evaporação. Uma árvore isolada pode transpirar aproximadamente 380 litros de água por dia, resultando num resfriamento equivalente ao de 5 aparelhos de ar condicionado médios (2500 kcal/h) em funcionamento durante 20 horas por dia.
Efeitos da Arborização sobre o vento e Circulação do ar
O vento também afeta o conforto humano e seu efeito pode ser positivo ou negativo, dependendo grandemente da presença ou não de vegetação urbana. No verão, a ação do vento, retirando as moléculas de água transpiradas junto a homens e árvores, aumentam a evaporação. No inverno, significa um aumento do resfriamento do ar.
Visto que uma temperatura de 7°C combinada com um vento de 16 km/h implica em uma temperatura efetiva de 0°C, de acordo com a aplicação do “índice de resfriamento pelo vento”.
Ações da Arborização contra a Poluição atmosférica
As árvores no ambiente urbano têm considerável potencial de remoção de partículas e gases poluentes da atmosfera. As folhas das árvores podem absorver gases poluentes e prender partículas sobre a sua superfície, especialmente se estas forem pilosas, cerosas ou espinhosas.
Diminuição de poeira no ar: os efeitos da vegetação sobre poeiras e partículas devem ser considerados sob dois aspectos: o efeito aerodinâmico, dependente de modificações na velocidade do vento provocadas pela vegetação e o efeito de captação das diversas espécies de vegetais.
Quanto aos poluentes químicos, estudos recentes identificaram novos aspectos sobre a ação dos vegetais, particularmente no caso do dióxido de enxofre (S02), do ozônio (03) e do flúor. Determinados vegetais têm uma grande capacidade de filtragem desses compostos químicos, na medida em que a poluição não se faça sentir a nível permanentemente tóxico.
Ação da Arborização contra a Poluição Sonora e proteção à privacidade
O excessivo barulho nas cidades, provocado pelo tráfego, equipamentos, indústrias e construções, interfere na comunicação, lazer e descanso das pessoas, podendo afetar psicologicamente ou fisicamente o homem. É frequentemente possível o uso complementar de árvores para redução do ruído e a melhoria do aspecto visual nas cidades, enfatizando-se a união destes dois aspectos positivos das árvores.
As árvores diminuem consideravelmente o barulho.
Deve ser considerado que mesmo árvores isoladas, junto a residências, podem fornecer alívio de ruídos e proteção contra luzes noturnas incômodas e com certeza, garantem privacidade.
As árvores urbanas são patrimônio, cujo zelo compete a
todos, pois elas contam a história e dela fazem parte
Suely Krueger
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Para podermos usufruir de todos os benefícios, vantagens e beleza que uma árvore pode nos oferecer, devemos seguir algumas orientações básicas.
É fundamental conhecermos as características e comportamento de cada espécie.
1. Dimensões e forma da árvore: Antes de tudo, precisamos saber que tamanho a árvore escolhida vai atingir quando adulta, e se o espaço disponível é adequado. Para locais onde existem fios elétricos, o ideal são arbustos ou arvoretas que não ultrapassem 5 m de altura.
2. Origem da planta: Dar preferência às nascidas na região em que serão plantadas, para não haver problemas com adaptação.
3. Sistema radicular: Plantar árvores cujo porte e raízes se desenvolvam sem causar prejuízos às calçadas e ruas. Muitas vezes a pivotante da árvore é quebrada, fazendo com que apareçam raízes laterais. Essas raízes são frágeis e não conseguem sustentar a árvore que consequentemente tomba causando sérios acidentes. O tamanho da copa corresponde ao tamanho das raízes. O ideal é que elas tenham o sistema radicular limitado até 5 m.
4. Crescimento: O desenvolvimento deve ser de médio a rápido, de modo a possibilitar a pronta recuperação da planta de possíveis acidentes.
5. Frutos: Opte pelas frutíferas que produzem alimento para os pássaros (pitanga, gabiroba, etc.). A razão é que frutos grandes podem cair em carros estacionados ou nas pessoas e causar sujeira nas ruas.
6. Folhas: Cidades de clima frio, dar preferência a árvores de folhas caducas, que perdem suas folhas no inverno, época em que o calor e a luz são mais necessários. Em cidades de clima quente, são recomendadas as espécies que não perdem as folhas.
7. Princípios tóxicos: Evitar espécies que possuem princípios tóxicos ou que provoquem alergia ao homem.
Ex.: espirradeira - Nerium oleander
Com estas regras básicas, é possível plantar um futuro coberto de flores e sombra fresca para toda nossa família.
Modo Correto de Plantar
Antes de plantar devemos ter certeza de que a muda está livre de pragas e doenças, ter torrão com raízes formadas e possuir uma altura mínima de 2,30 m, incluindo os 60 cm do torrão que será enterrado.
1. Tamanho da cova: Deixe espaço para a árvore crescer. A abertura na calçada é fundamental para que a planta seja alimentada pelas águas da chuva. A abertura mínima é de 60 cm3, mas o ideal é 80 cm3 (80 cm de largura, altura e profundidade). Esse é o tamanho mínimo para que as raízes não venham comprometer a calçada. Se a calçada for larga, pode ser 1.0 m2 por 80 cm de profundidade.
2. Prepare bem a cova com terra vegetal, enriquecida com 500 g de adubo na formulação NPK 10-10-10.
3. Posicione a muda no centro da cova, com o tutor, que dará sustentação ao crescimento vertical da planta. Em seguida complete a cova com a terra que foi preparada.
4. A muda deve ser fixada ao tutor por um amarrilho de sisal ou similar. Para que fique bem amarrado, faça um nó em forma de oito deitado.
5. Durante a fase de enraizamento da planta, regue-a diariamente. Nas épocas de estiagem, as árvores também precisam de regas periódicas.
Pequenos erros que causam grandes estragos
Vários problemas poderão surgir se a árvore não for plantada corretamente ou se a espécie for inadequada.
Alguns erros comuns:
1. Árvores altas, com copa em meio à fiação. A poda destas árvores deve ser feita com frequência e orientação técnica, para evitar acidentes com a fiação elétrica.
2. Evitar pequenas muretas ao redor das árvores, pois elas bloqueiam o escoamento da água da chuva para o canteiro.
3. Sem abertura para absorção de água e nutrientes, a árvore fica sufocada, o que prejudica o seu desenvolvimento. Respeitando as medidas corretas para o plantio (80 cm3) a calçada não deverá quebrar. A árvore terá uma abertura apropriada para crescer e não precisará jogar suas raízes para fora para receber água.
4. Árvores grandes em caminhos estreitos. O ideal é que haja um espaço mínimo de 90 cm para o trânsito livre. As raízes superficiais podem causar transtornos em áreas estreitas, além de ser um tropeço natural para as pessoas.
5. As árvores não podem comprometer a visão de semáforos e placas nem prejudicar a iluminação das ruas.
Espécies ideais para calçadas de 1.5 a 2m de largura
Onde existem fios elétricos, as árvores escolhidas devem ser de porte pequeno, com até 5 m de altura, plantadas com espaçamento de 6-8 m.
Resedá - Lagestroemia indica
Acácia-mimosa - acacia podalirifolia
Jasmim-manga - plumeria rubra
Hibisco - hibiscus rosa-sinensi
Cerejeira-do-Japão - prunus serrulata
Ipezinho-de-jardim - tecoma stans
Espécies ideais para calçadas de 2 a 2.5 m de largura
Escolha plantas de porte médio, com até 10 m de altura, plantadas com espaçamento de 8-10 m.
Quaresmeira - tibouchina granulosa
Manduirana - cássia speciosa
Manacá-da-serra - tibouchina mutabilis
Canafistula-de-besouro - Senna spectabilis
Pata-de-vaca - bauhinia variegata
Chuva-de-ouro - cássia fistula
Ipê amarelo - tabebuia chrysotricha
Espécies ideais para calçadas com mais de 3 m de largura
Escolha plantas de porte grande, com mais de 10 m de altura, plantadas com espaçamento de 10-12 m.
Ipê-roxo - tabebuia avellanedae
Mulungu - erytrina mulungu
Falso-barbatimão - cássia leptophylla
Jacarandá-mimoso - jacaranda mimosaefolia
Sibipiruna - caesalpinia peltophoroides
Espécies que não devem ser plantadas na calçada
São árvores que precisam de muito espaço para crescer, pois têm raízes vigorosas e frutos grandes. Elas são indicadas para sítios e parques.
Plátano - platanus occidentalis
Falsa seringueira - fícus elástica
Mangueira - mangifera indica
Flamboyant - delonix regia
Paineira - chorisia speciosa
Abacateiro - persea americana
Figueira benjamina - fícus benjamina
Chorão - salix babylonica
As palmeiras em geral também não são apropriadas para o uso em calçadas, seja pelo porte, na maioria das vezes grande, e também pela dificuldade de manejo. No entanto, podem ser utilizadas nos canteiros centrais de avenidas e nas rotatórias, bem como nas áreas livres públicas.
A experiência vem demonstrando que a vida útil de uma árvore em condições adversas limita-se ao redor dos 30 anos, idade na qual recomenda-se a sua substituição.
Poda
A poda tem a função de adaptar a árvore e seu desenvolvimento ao espaço que ela ocupa. O conhecimento das características das espécies mais utilizadas na arborização de ruas, das técnicas de poda e das ferramentas corretas permite que esta prática seja feita de forma a não danificar a árvore.
As concessionárias de energia elétrica e o próprio Corpo de Bombeiros realizam podas, para proteção das redes aéreas ou quando a árvore apresenta riscos. Mesmo nestas condições, por vezes, são realizadas sem o acompanhamento técnico, o que resulta em árvores com sua arquitetura original totalmente comprometida.
A poda sempre será uma agressão à árvore. Sempre deverá ser feita de modo a facilitar a cicatrização do corte. Caso contrário, a exposição do lenho permitirá a entrada de fungos e bactérias, responsáveis pelo apodrecimento de galhos e tronco e pelo aparecimento das conhecidas cavidades (ocos).
A situação ideal é conduzir a árvore desde jovem, quando tem maior capacidade de cicatrização e regeneração, orientando o seu crescimento para adquirir uma conformação adequada ao espaço disponível.
Erva-de-passarinho
Outro grande problema que atinge nossas árvores de norte a sul do país, é a erva-de-passarinho (família das Lorantaceas). É um arbusto ou subarbusto - parasito, que nasce, cresce e se desenvolve completamente sobre as árvores, alimentando-se da seiva da hospedeira. A erva é composta de ramos cilíndricos ou achatados que, à medida que crescem, vão aderindo ao tronco e aos ramos, lançando raízes sugadoras, que penetram nos vasos lenhosos donde retiram a seiva.
Importante na disseminação são suas sementes pseudobagas suculentas, atraentes, que são ingeridas pelos passarinhos. Após a ingestão é depositada sobre um galho de uma árvore (hospedeira) já em processo de germinação e com adubo suficiente para brotar e crescer.
A tendência da erva é desenvolver-se até tomar toda a árvore, causando seca dos ramos, galhos e tronco, advindo a morte de ambas, hospedeira e parasita.
Não devemos confundir a erva-de-passarinho com a enorme quantidade de plantas que vivem sobre as árvores, mas que delas não parasitam, usando-as somente como suporte. É comum vermos árvores com o tronco e galhos tomados por plantas epífitas como: musgos, caraguatás, bromélias, orquídeas, líquens, etc.
É no inverno, na nossa região, a melhor época do ano para fazermos a identificação e realizarmos o combate. Por serem suas folhas perenes, ficam em destaque nas plantas hospedeiras que têm folhas caducas. O combate da erva-de-passarinho é feito de uma forma mecânica, realizando a retirada de todas as partes da erva que se encontram na planta hospedeira. Quando a erva ainda é nova, fácil é sua retirada. Com o passar do tempo o parasita vai se robustecendo a ponto de envolver os ramos e até mesmo o tronco, sendo necessário a realização de poda, em vez da retirada tão-somente da erva.
Maria Luiza Amatuzzi
Boletim “O Regador” – n˚59
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