Nunca vou me esquecer do cheiro de pitanga que tinha na minha casa. Aquele frutinho tão pequeno e delicado, vermelho, que eu mais cheirava do que comia.
Por alguma razão que não sei explicar, não consigo cultivar mais pitangueiras. Já plantei várias, mas elas morrem, mesmo sendo nativas da minha região. E minha memória insiste e exige que eu tente novamente.
Cada um de nós tem suas recordações ligadas a cheiros. Logo que comprei minha casa de campo, plantei uma dama-da-noite. Ela cresceu rápido, meio esgalhada como é típico da espécie. Ao passar por ela, bate aquela fragrância que deixa a gente até meio zonza. Damas-da-noite têm de ser assim, sempre na passagem para a gente receber o impacto, se encantar e ir embora. Senão, enjoa.
Os odores são essenciais e acompanham o ser humano desde sempre. Queimar ervas perfumadas para adorar aos deuses é uma prática que ninguém mais sabe como começou. Até hoje, nas missas da Igreja Católica, a mirra (sim, vem de uma planta, a Commiphora myrrha) é um incenso queimado no turíbulo como uma forma de elevar as orações dos fiéis aos céus.
A mulher que quer enfeitiçar seu amado faz questão de sempre usar um perfume especial para que nunca seja esquecida. Os aromas despertam instintos. Por isso, ao usar plantas perfumadas no seu jardim, seja sutil. Coloque um manacá aqui, um jasmim ali, um resedá acolá, de tal forma que cada cantinho tenha um cheiro próprio.
Quando a via mudar - tenha certeza que a vida sempre muda - e você estiver em outro jardim de um tempo que ainda virá, ao sentir aquele cheiro, vai se lembrar da fase da vida que vive atualmente. E terá muitas boas lembranças.
Texto extraído do livro: O poder do jardim
Autor: Roberto Araújo
Editora Europa
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