Escolher as cores do jardim é um trabalho muito especial. De muito longe, dá para notar os tons vermelhos de um bico-de-papagaio. Uma orquídea catleia que, de perto, pode até não impressionar muito, se destaca na paisagem. Um canteiro de margaridinhas-amarelas irradia suas cores. Isso tudo para quem sabe olhar.
Faz muito tempo que, literalmente, procuro entender as cores. E, devo confessar, ainda não aprendi a vê-las como merecem ser vistas. Sempre acho que poderia apreciá-las melhor do que tenho apreciado. Na adolescência, comecei a fotografar. Arte mesmo era em preto e branco, garantiam os mestres da fotografia. Um girassol em preto e branco? Muda o contexto, favorece outra leitura, diziam. Mas nunca botei muita fé. A explosão de amarelo de um girassol é algo que beira o inacreditável, de tanta beleza. Se você quiser conhecer como é efetivamente o amarelo, olhe um girassol à luz da manhã.
Fiquei sabendo depois que cor é uma questão cultural. De novo, a fotografia me ajudou. Numa entrevista com um executivo de uma multinacional especializada em impressão de fotos, descobri que os discretos europeus gostam de suas fotos em cores mais pastéis, os reservados japoneses, de tons suaves, e nós, brasileiros, de cores fortes. Fácil entender o porquê. É tudo uma questão da força do sol nos trópicos, da pouca roupa, da alegria de um povo jovem, bronzeado em milhares de quilômetros de praias.
Nos privilegiados jardins brasileiros dá para abusar dos amarelos, dos vermelhos, dos azuis ou dos roxos. Pois então ... Será que abusar é o certo? Acredito que sempre vale a pena pensar no jardim como uma pintura, uma tela a ser desenhada.
Cor, muita cor, pouca cor. Vá, deixe-se levar por elas. Ponha em ação sua fantasia e dê um novo colorido tropical à sua vida.
Texto extraído do livro: "O Poder do Jardim"
Autor: Roberto Araújo
Editora Europa