Uma conversa histórica
O café é muitíssimo apreciado pelos alemães. Em mais de 98% dos cerca de 22 milhões de lares, bebe-se regularmente esta bebida preta, que tanto anima: e esta afirmação é comprovada pelo facto de que na lista dos "best-sellers” das bebidas o café está à frente da cerveja. Foi também na Alemanha que se descobriu o processo de preparar café actuatmente mais apreciado - o filtro - e isto passou-se há mais ou menos 75 anos.
Melitta Bentz, de Dresden, dona de casa e mãe de família, era grande apreciadora de café. Este prazer contudo ”turvava-se” (no verdadeiro sentido da palavra) sempre que saboreava a sua bebida preferida, por causa da incomodativa "borra” - o resíduo escuro e amargo que se depositava no fundo da chávena. Um belo dia esta senhora de 35 anos de idade, teve uma "inspiração”: furou o fundo de uma caixa de lata e colocou sobre ele uma folha de papel mata-borrão do caderno do seu filho. A seguir, colocou o pó de café em cima e deitou água sobre ele - tendo assim "fabricado” o primeiro filtro para café! Isto passou-se em Dresden, no ano de 1908.
Porém a inventora considerava ter ainda um "senão”: a água precisava de muito tempo para atravessar o papel mata-borrão, que era bastante grosso e até que isso acontecesse, já a deliciosa bebida estava fria, na maior parte das vezes. Também o formato do filtro se mostrou como não sendo o melhor. Foi então que Melitta e Hugo, o seu marido entusiasta e também dotado para trabalhos de “bricolagem”, foram procedendo a várias experiências, durante algum tempo ainda, até que em 15 de Dezembro de 1908 surgiu o "filtro primitivo” - um recipiente cilíndrico, de latão, com 13 cm de altura, dentro do qual se colocava um papel de filtro circular.
No mesmo ano Melitta Bentz passou a ter a patente do seu filtro de café, dada pelos organismos imperiais competentes. Então a inventora e o marido fundaram uma miniempresa: numa só divisão foram manufacturados os primeiros filtros, com a ajuda do próprio filho, ainda muito pequeno. O capital inicial da empresa era irrisório.
Em 1911, na Feira de Leipzig, o filtro surgiu como uma bomba” no campo das inovações; foi, contudo, ainda preciso chegar até ao formato definitivo do mesmo. Nos anos trinta apareceu no mercado um filtro, com o formato do actual, que se adaptava rigorosamente aos sacos de papel (já com o formato dos actuais).
Com a descoberta deste sistema de fazer café Melitta não encontrou só a maneira mais higiênica e saborosa de preparar o café, mas também, sem dúvida, a mais saudável. Ao torrar os grãos de café em verde surgem matérias primas que não são de facto importantes para o aroma, e que até podem causar perturbações gástricas. Como o papel não "filtra” apenas o pó do café, mas também uma parte destas matérias primas, à chávena chega apenas tudo o que é mais que suficiente para dar à bebida o seu sabor e aroma típicos.
Melitta Bentz, caracterizada pelos seus netos como "maternal, muito bondosa e bem-disposta”, faleceu em 1950, com a idade de 77 anos. Os seus filtros são hoje conhecidos em mais de cem países, e naqueles onde o café é preparado de outras formas, devido a antigas tradições, como por exemplo na Itália e nos Estados Unidos da América, vão sempre encontrando mais adeptos.
Fonte: Revista Burda - M 2018 C - 1983