domingo, 20 de junho de 2021

Orquídea de Praia

 

            Por Giulia Bucheroni, Terra da Gente 

                                        Em 15/06/2021


O tom alaranjado das flores é característica chamativa da espécie — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal 

 

Nova espécie de orquídea é descoberta no Arquipélago de Alcatrazes em São Paulo.


Principal comprovação da nova identificação é a incapacidade da planta em se reproduzir com orquídeas similares que existem no continente.

 

 

Em 1835 Charles Darwin percebeu que as ilhas abrigam espécies exclusivas, diferente das que ocorrem nos continentes, e que a origem delas é resultado das adaptações necessárias para sobreviver às condições do ambiente isolado. Desde então, pesquisadores se dedicam a estudos sobre a variedade de fauna e flora típicas das ilhas de todo o mundo.


Pouco comum, porém, é constatar o surgimento de uma nova espécie acompanhando as primeiras mudanças genéticas dela, ainda imperceptíveis visualmente. E é exatamente isso que pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp têm feito com uma espécie de orquídea.


Espécie é abundante em áreas de restinga e muito comum no litoral de São Paulo — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal


“Há alguns anos ficamos sabendo que a orquídea Epidendrum fulgens, bastante comum no litoral de São Paulo, ocorria também no Arquipélago de Alcatrazes (SP). Uma equipe de pesquisadores viajou até a ilha e trouxe amostras dessa planta, que eu cultivei em estufas e hoje fazem parte da coleção da universidade. A ideia era fazer o cruzamento entre plantas do continente e plantas da ilha e avaliar a capacidade reprodutiva entre elas”, conta Fabio Pinheiro, biólogo e pesquisador do Departamento de Biologia Vegetal da Unicamp.

 

“Nosso estudo foi o primeiro que realmente testou se os organismos eram capazes de se reproduzir com parentes do continente. Esse é um ponto determinante da formação de novas espécies, chamado de isolamento reprodutivo” 

— Fabio Pinheiro, biólogo

 

O teste foi crucial para dar início às investigações sobre uma nova espécie. “Afinal, a gente sabe que quando uma espécie está se formando, a primeira característica que surge é a incapacidade de se reproduzir com outras populações”, diz.

 

Diferente da maioria das orquídeas, espécie nasce e se desenvolve direto na areia — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal

 

Os resultados animaram Fabio e Giovanna Veiga, aluna de iniciação científica do Laboratório de Ecologia Evolutiva do Instituto de Biologia. “Para a nossa surpresa elas não conseguiam mais se reproduzir. Ficamos bem contentes com o resultado, pois detectamos o surgimento de uma nova espécie na fase inicial do processo, antes mesmo de se diferenciarem morfologicamente”, comenta. 


“Essa descoberta é muito interessante porque a partir dela conseguimos monitorar e descobrir quais elementos da paisagem e quais elementos geográficos podem influenciar na formação de uma nova planta”, reforça Fabio.

 

Pesquisadores comemoram descoberta da nova espécie — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal


Sem prazo para acabar

Como o processo de formação de uma nova espécie é demorado – podendo levar milhares de anos; os pesquisadores certamente não acompanharão toda a evolução da orquídea, mas os registros científicos desse e dos próximos anos de estudos serão cruciais para o futuro da ciência, principalmente no quesito isolamento reprodutivo e surgimento de novas espécies.


“A próxima etapa é entender os motivos que impedem a reprodução da espécie com as do continente. Há hipóteses de que as plantas da ilha podem ter metabolismo diferentes, polinizadores diferentes, podem captar a luz do sol de maneiras distintas, assim como se reproduzir de outra forma. A incapacidade de reprodução é suficiente para a descrição de uma nova espécie, mas estamos formalizando essa descrição com mais dados e informações”, explica Fabio, que destaca ainda a importância de estudos como esse para além da comunidade científica.

 

Epidendrum fulgens é conhecida como orquídea-da-praia — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal


“Nós fazemos pesquisas assim para que a sociedade saiba mais sobre o que existe ao redor e conheça exatamente a diversidade que nos cerca. Para isso, é importante quantificar as espécies que ocorrem em todo o País, inclusive nas ilhas. Certamente existem outras plantas e animais esperando ser estudados”, completa. 

 

Orquídea de praia

A espécie de orquídea estudada pelos pesquisadores é abundante em todo trecho de litoral com restinga, desde Paraty, Rio de Janeiro até Pelotas no Rio Grande do Sul.

 

Além da coloração laranja, a flor chama atenção por nascer e crescer na areia, diferente de outras espécies de orquídeas que costumam se fixar nas árvores. “As borboletas são as principais polinizadoras dessa espécie, que não é muito usada como planta ornamental”, comenta Fabio.

 

Espécie não corre risco de extinção no continente, mas na ilha pode ser vulnerável a possíveis interferências — Foto: Fabio Pinheiro/Arquivo Pessoal


Endêmica do Brasil, a espécie não corre risco de extinção no continente, mas o fato de haver uma ‘parente’ exclusiva em Alcatrazes acende um alerta sobre a conservação. 


“No continente a orquídea sofre ameaça somente quando a praia é urbanizada. Já na ilha, por ser um ambiente restrito e uma área pequena, qualquer interferência pode fazer com que a planta desapareça facilmente. As populações são muito pequenas, formadas por algumas dezenas de plantas. Esses organismos de ilha são muito sensíveis. Se desaparecerem dali não vão existir outras fontes para recolonizar o local."

— Fabio Pinheiro, biólogo

 

Início demorado

Apesar dos pesquisadores constatarem ainda no início a formação de uma nova espécie, esse processo começou há milhares de anos. “Sabemos que há 20 mil anos o nível do mar era mais baixo que o atual e, por isso, Alcatrazes estava conectado ao continente. Conforme esse nível foi subindo, há cerca de 10 mil anos, ele se isolou como ilha. O que justifica o fato de abrigar uma população da Epidendrum fulgens”, finaliza.

 

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Orquídeas da Ilha do Cardoso, SãoPaulo em 29/05/2021 - Fotos: Denise Lobo








 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 15 de junho de 2021

Bauernmalerei – Pintura Camponesa


                                           Palestrante: Suely Conceição De Marino Krueger

                                           Palestra proferida em 7 de outubro de 2009

 


            Essa pintura de expressão decorativa foi idealizada há mais de três séculos por camponeses alemães, austríacos e suíços que ficavam em resguardo durante os meses de inverno e ao colorir o interior de suas casas com o intuito de reparar e adornar móveis, paredes e diversas peças utilitárias e de decoraçãofaziam uma contraposição à monotonia do branco da neve, agregando valor estético e artístico em suas residências simples de madeira. Folclórico, vibrante e muito popular nos séculos 17 e 18, o Bauer retrata a visão simples da natureza.

 


            A autêntica pintura Bauernmalerei é feita com uma única, farta e sutil pincelada por vez, sem que o traço seja refeito, em forma de uma vírgula, ou seja, semicircular. 

 


            A técnica do Bauernmalerei pode ser aplicada em diversas superfícies, incluindo a cerâmica, a madeira e o metal. O preparo básico da superfície inclui lixar, impermeabilizar e aplicar a cor de fundo. É recomendado usar tintas óleo, esmalte, acrílica ou látex e ter à mão os seguintes pincéis: redondo, filete, chato e chanfrado.

 


            As cores usadas são vivas, sem muitas misturas - como o verde, azul, ocre, bordô, vermelho, amarelo-ouro, amarelo queimado, branco e preto e a preferência por retratar figuras humanas em trajes típicos, flores, arabescos e animais estilizados - os mais comuns são os pássaros e os carneiros em cores fortes e contrastantes. Entre as flores, as mais comuns são a rosa, tulipa, a violeta, margarida, crisântemo, miosótis e as flores do campo. O desenho pode ser transferido ou feito à mão livre.

 


            Depois de escolhidas as cores, uma dica é começar a pintura pelo desenho que estiver em último plano. Por exemplo: em uma flor, o ideal é começar pintando as folhas.

 

            Nos dias de hoje, esta arte é bastante difundida em todo o mundo graças ao toque campestre e romântico.

 

                                            Revista "O Regador" – Ano I, nº 01

 


Outras fontes:

www.simplesmenteartes.com.br

www.portaldorancho.com.br
www.merapi.com.br

blog.kukos.com.br

 


Fotos:

Denise Lobo – caixa de fotografias

Vera Hungria – aluna da prof. Suely

Pinterest



quinta-feira, 20 de maio de 2021

Erva de Passarinho

                                            Palestrante: Diogenes Silmar Gusso        

                                            Palestra proferida dia 20/06/2001.                            


    Antes de iniciarmos o tema desta reunião, quero apresentar meus agradecimentos pelo convite. Creio ser uma oportunidade para que possamos conhecer um pouco de uma planta parasita que está proliferando nas árvores dos logradouros de Curitiba e talvez, reunirmos esforços em prol das nossas árvores atacadas pela erva de passarinho. Costumo dizer que o problema não está debaixo, mas pouco acima dos nossos narizes.



    A erva de passarinho é um arbusto ou subarbusto, parasito, que nasce, cresce e se desenvolve, completamente, sobre as árvores, alimentando-se da seiva da hospedeira. Distingue-se da planta hospedeira, geralmente, pela diferença de suas folhas e na formação, como que tufos, de ramos e de folhas entremeados.

A erva é composta de ramos cilíndricos ou achatados que a medida que crescem vão aderindo ao tronco e aos ramos, lançando raízes sugadoras, haustórios. que penetram nos vasos lenhosos donde retiram a seiva. Esses ramos dão a aparência de uma cobra sobre o tronco. A outra parte é formada por ramos soltos com folhas verdes e inflorescência, que por serem heliófilos procuram as partes mais altas da planta hospedeira. em busca do sol.



Em algumas espécies há formação de nó, do qual saem ramificações em todas as direções, com aparência similar a dos ramos soltos de uma planta de “chorão” que descem em direção ao solo. Suas folhas podem ser distinguidas visualmente por serem geralmente de cor verde escuro, variando em tamanho conforme as espécies mais comuns, com folhas graúdas ou com folhas miúdas. As folhas miúdas formam um emaranhado mais compacto sobre os ramos da hospedeira, que dificulta um pouco mais a sua remoção.

Importante na disseminação, são as suas sementes pseudobagas sucosas, atraentes que são ingeridas pelas aves que as dispersam após um rápido trânsito intestinal. O embrião, liberto do envoltório seminal, pela digestão, é depositado mediante a defecação, sobre o hospedeiro, desenvolvendo-se vigorosamente em uma nova planta.



É no inverno, na nossa região, a melhor época do ano para fazermos a identificação e realizarmos o combate. Por serem suas folhas perenes, ficam em destaque nas plantas hospedeiras que tem folhas caducas.

A tendência da erva é desenvolver-se até tomar toda árvore, causando seca dos ramos, galhos e do tronco, advindo a morte de ambas, hospedeira e parasita.

Ecologicamente as ervas de passarinho são vegetais primeiramente silvestres e são encontrados em todo o Brasil, desde a floresta amazônica aos campos do sul. Constituem problemas à agricultura visto atacarem plantações econômicas como: laranjeiras, cajueiros, cacaueiros, pessegueiros, ameixeiras, enfim, frutíferas. Também parasitam árvores ornamentais como: coníferas, bambus, palmeiras, plátanos, tipuanas, extremosas, cinamomos, alfeneiros, etc...

Não devemos confundir a erva de passarinho com a enorme quantidade de plantas que vivem sobre as árvores, mas que delas não parasitam, usando-as somente como suporte. É comum vermos árvores com o tronco e galhos tomados por plantas epífetas como: musgos, caraguatás, orquídeas, líquens, etc.., que naturalmente poderão causar algum dano à casca da árvore, por proporcionar concentração de umidade e não permitir a entrada dos raios solares, mas sem grande comprometimento.

O combate da erva de passarinho é feito de uma forma mecânica, realizando a retirada de todas as partes da erva que se encontra na planta hospedeira. Quando a erva ainda é nova, fácil é a sua retirada. Com o passar do tempo o parasita vai se robustecendo a ponto de envolver os ramos e até mesmo o tronco, sendo necessário a realização de poda, em vez da retirada tão somente da erva. Nos casos mais graves, em que a hospedeira está muito tomada, há necessidade de se analisar a situação em que se encontra, para poupar ao máximo a poda brusca da hospedeira, executar uma poda estética.

O método é simples, somente trabalhoso. Desconheço outra técnica.

Para realização desse trabalho necessitamos de um equipe treinada e algumas ferramentas simples como: espátula, canivete, tesoura e serrote de poda, etc... Em árvores de pequeno porte a escada resolve o acesso ao local. Para árvores de médio e grande porte, como as do Passeio Público, por exemplo, precisamos de equipamentos especiais como elevadores hidráulicos de lança, com alojamento protegido, para que facilite e ofereça segurança ao técnico ou funcionário treinado, para atingir a altura adequada e realizar a erradicação da erva.

 


Resumo da identificação da erva de passarinho

É um arbusto, parasito, que se desenvolve sobre outra planta, hospedeira, podendo se localizar em qualquer parte da árvore, de preferência nas partes superiores.

Geralmente apresenta folha verde escuro, coreacea, perene e de tamanho graúda ou miúda. Facilmente visível no outono e inverno, quando as plantas hospedeiras são as de folhas caducas.

Ramos com raízes sugadoras que aderem e penetram no caule ou nos ramos da hospedeira. Visualmente assemelha-se a uma cobra no tronco. 

A inflorescência apresenta-se em cacho, espiga e umbela. 

Nos ramos aéreos poderão formar um nó, onde outros ramos se desenvolvem e geralmente crescem em direção ao solo. 

A planta hospedeira poderá apresentar já, ramos secos nas proximidades de onde estiver instalada a erva.

O pseudofruto é semelhante a uma baga, carnudo e suculento, apreciado pelos pássaros, que fazem a sua disseminação.

 


Combate da erva de passarinho

Deve ser realizado de forma mecânica, proporcionando erradicação total da erva e preservando ao máximo planta hospedeira, dando-lhe adequada estética.

Cientificamente a erva de passarinho está classificada na família das LORANTÁCEAS, nome originário do grego e do latim, em que, LOROS significa correia, lembrando sua característica correácea e ANTHOS que significa flor.

Nesta família encontraremos cerca de 40 gêneros, que englobam aproximadamente 1500 espécies.

Para fins ilustrativos citaremos alguns nomes genéricos e específicos que foram estudados e divulgados pelo Herbário Barbosa Rodrigues do Estado de Santa Catarina.

 


Gêneros

Phrygilanthus

Phrygilos = tentilhão - pequeno pássaro de canto muito bonito.

Anthos = flor - em alusão à disseminação por pássaros.

Espécies: Acutifolius ( parasita de raiz ) único no Brasil.

 

Struthanthus

Struthos = pássaro

Anthos = flor - em alusão à disseminação por aves. 

Espécies: Vulgaris, Polyrhizus, Uraguensis.

 

Phoradendron

Phor = ladrão

Dendron = árvore - aludindo ao modo parasitário.

Espécies: Crassifólium, Linearifólium, Hamatifólium, Ulophyllum,

                 Piperóides, Holoxanthum, Martianum, Bathyoryctum.

 

Erva de passarinho em Tupi denomina-se Guairá-repoti

Guairá = ave e repoti = fezes


                                        Boletim "O Regador" - nº 48.